Iniciantes, Consumismo e Digital

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Após realizar o artigo Iniciantes e Materiais, notei que haveriam algumas pontas soltas no artigo que eram convenientes esclarecer. Decidi assim elaborar este artigo, sendo ele um conselho que deixo a todos os que pretendem abraçar esta área.



Existe uma tendência crescente no mundo artístico de que é necessário materiais de topo caros para produzir qualquer tipo de desenho independentemente do meio (tradicional ou digital).
No entanto esta é uma falsa ideia, introduzida maioritariamente pela publicidade a que temos acesso sobretudo na Internet: todos os produtos necessários ao nosso ofício podem ser facilmente visualizados e adquiridos com um simples clique.
Não é necessário material excessivamente caro para produzir trabalhos de qualidade, por mais tentador que seja. Claro que ter bom material é sempre um ponto a mais. Mas por mais bom que seja, ele não fará com que o trabalho melhore instantaneamente na anatomia, na luz e sombra, na composição, e todos os outros componentes - ele tem apenas um pequeno papel a desempenhar em todo o conjunto. Ele não dará conhecimento extra, nem fará um melhor artista.
Este é um dos conceitos mais enganosos da publicidade - o conceito que o produto substitui o conhecimento. 

A outra tendência errada, é que desenhar no digital é melhor e substitui o tradicional. Não poderia existir afirmação mais errada. O tradicional é a fundação base e com o bom domínio das suas técnicas conseguem adquirir-se excelentes resultados, que quando levados para os métodos digitais trarão excelentes recompensas. Não é necessário aprender a manipular camadas, efeitos, filtros e vectores no tradicional - basta utilizar os materiais e realizar o trabalho, sem complicações, atalhos ou facilitismos. Este é o calcanhar de Aquiles no que toca realizar trabalhos digitalmente; existe uma série de atalhos que nos permitem resolver mais facilmente problemas no desenho, mas caso não possuirmos o conhecimento necessário não conseguiremos corrigir. Se não soubermos como funciona o corpo humano, não conseguiremos saber se aquela torção do tronco complicada está errada ou não. Se não sabemos como corrigir, não existe nenhum Ctrl+T ou Warp que o faça por nós.
Sendo assim, estes facilitismos atrapalham a nossa evolução artística em vez de a potencializarem. Isto é válido para qualquer categoria: Se não sabemos usar cor, o digital não nos vai ensinar a usar cor; se não compreendemos luz e sombra, ele não nos vai ajudar a dar volume ao nosso desenho.

O mais importante é estudar as bases e compreendê-las a fundo. Isto vai desde saber como se utiliza um simples material como o lápis e quais as suas limitações, até anatomia e perspectiva avançadas.
Desenhar é como solucionar um problema, mas os meios utilizados são visuais. Temos de compreender as variáveis com que vamos trabalhar antes de conseguirmos apontar uma solução concreta. É por isto que desenvolver competências como a percepção visual e percepção espacial são das maiores prioridades.
Desenhar tradicionalmente obriga-nos a pensar e a tomar decisões rapidamente, coisas essenciais no decorrer de a realização de um trabalho. Pensar com calma e descobrir como resolver a fórmula é mais eficaz que rabiscar rapidamente sem direcção alguma.

Não existe nenhuma forma de evoluir exponencialmente sem ser trabalhar arduamente , praticar e estudar. Este é um método testado e comprovado, pelo qual muitos artistas passaram. Existe um caminho para o sucesso e por norma ele é sempre o mais difícil de trilhar, mas também o mais recompensador. E isto é valido para todos aqueles que queiram evoluir.

Espero que este artigo ajude a abrir horizontes e seja um potencializador do vosso sucesso e evolução, e nunca se esqueçam de que por mais fantásticos que sejam os vossos trabalhos, existe sempre mais a aprender. A viagem da evolução artística é infindável. :)


5 comentários:

  1. Antes preferia mais singrar pelo digital do que pelo tradicional, ultimamente tenho tido muito mais gosto em ilustrar pelo tradicional, trata-se praticamente do meu estilo de desenho e onde me sinto mais confortável e em mais controlo para ser criativa, com o tipo de shading e inking que faço.

    Deram-me um conselho valioso que tenho tentado seguir, uma vez tendo um estilo definido, para continuar a treinar e a melhorar no mesmo e não me divergir tanto para outros estilos de desenho ou mesmo para o digital. E tem sido um conselho que tem me dado frutos.
    Hoje em dia não tenho qualquer intenção de adquirir uma pen tablet, no máximo tenho comprado materiais para inking (a ver se compro aquela pen que tu e a Elisa Kwon utilizam, para ir treinando mais um bocadinho. Adoro ver a Kwon a inkar *o*).

    Tou a gostar de ver este blog, sim senhora. Bem podias deixar links ou pequeno preview na Kirane, pateta XD

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    1. Eu vi a tua "mundança", na verdade já estava meio que á espera de tal coisa já que sempre preferiste mais o tradicional.

      Sim, realmente resulta, é uma forma de te manteres no mesmo percurso e começares a explorar o que pode ser feito dentro do teu "nicho". No entanto eu defendo que o equilíbrio deve ser mantido :) Até porque se, o teu skill está em determinado nível, ele será mantido independentemente das técnicas e materiais utilizados.
      A Pentel Pocket Brush :D Faz uma encomenda grande no JetPens.com, e encomenda canetas de aparo também, acho que te vais divertir imenso.

      Realmente podia... acho que é isso que vou fazer

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  2. Algo que ouço muito por ai, é que a arte digital é mais fácil. Ok, ela pode até facilitar, mas quando não se há uma base para o que se desenha....não há muito o que fazer além de treino e mais treino. Se desenha um boneco de palito no papel, desenha um no computador também!

    E uma coisa que percebi - acho que não é só eu - é que adoro comprar materiais tradicionais. Quando estou triste, ou por algum motivo não consigo desenhar nada, passo na papelaria mais próxima e compro uma tinta diferente, um lápis chamativo e adoro testa-los pra ver como fica.

    Até hoje, desenhando bastante por meio digital, os meus estudos de anatomia, colorização são todos feitos por meios tradicionais, depois é só aplicar o conhecimento que consegui por meio do tradicional no digital :3

    Sobre preços de materiais... nunca me importei muito. Gosto de comprar várias marcas e testa-las, e utilizo as que mais me agradaram. Na maioria das vezes a marca não é a mais cara, nem a mais famosa, me agradar no resultado final é o que realmente conta :3


    Acho que às vezes as pessoas se esquecem que NENHUM material do mundo substitui o treino e a dedicação.

    Estou adorando seu blog :) Vou sempre acompanhar.

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    1. É exactamente esse conceito que pretendo desmistificar com o artigo :)
      Também me ajuda imenso comprar um novo material tradicional, dá a sensação que do nada voltamos a apaixonar-nos com desenho de novo e esquecemos todas as dores de cabeça e frustrações. Prefiro também fazer todos os meus estudos a tradicional e caso necessitarem utilizo o digital para os aperfeiçoar e melhorar.

      Eu gosto de ter em conta aquilo que compro e a qualidade do que compro, então faço por pesquisar materiais e marcas - mas se o material resulta para ti, isso é o mais importante.

      Exactamente; vivemos numa era de atalho e facilitismos e as pessoas tendem a cair nessa rota. Obrigada, fico contente que gostes! :D

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